Há quase três décadas, o Brasil mergulhava na era do real, deixando para trás tempos de inflação e taxas de juros estratosféricas. Contudo, essa relação recente com a moeda real ainda carrega desafios financeiros. Enquanto o país avança economicamente, desafios como desigualdades e endividamento persistem.
A Educação Financeira surge como uma aliada poderosa nesse cenário. Apesar de sua importância, ela permanece subexplorada no Brasil. A OCDE destaca a educação financeira como um processo para capacitar indivíduos a fazerem escolhas informadas, contribuindo para um futuro mais consciente.
A ENEF reforça a necessidade de promover a educação financeira, não apenas como um instrumento individual, mas como um pilar para fortalecer a cidadania e o sistema financeiro nacional. Este blog, inspirado na pesquisa de Brenda Letícia de Campos Antunes, explora os desafios, avanços e a necessidade de colaboração entre setores para construir um futuro financeiro sólido e próspero no Brasil.
Entendendo a educação financeira de forma simples: ela é um processo que visa transmitir conhecimentos sobre dinheiro, capacidade de tomar decisões e responsabilidade financeira ao longo da vida. Diferente da educação convencional, a financeira é um aprendizado autêntico que se desenvolve na prática, moldando nossa capacidade integral.
Iniciar esse processo desde cedo é crucial. Por volta dos dois ou três anos, as crianças já começam a perceber que o dinheiro tem um papel importante. É nesse momento que a educação financeira dá seus primeiros passos, ensinando valores das moedas e as regras de equilíbrio financeiro.
D'aquino destaca o desafio de educar não apenas para o presente, mas para um futuro que mal podemos imaginar. Desenvolver o espírito empreendedor e estimular o raciocínio inovador são ferramentas essenciais para preparar nossas crianças e jovens para o desconhecido.
A mesada surge como uma lição prática. Além de ser um ganho financeiro, ela traz a necessidade de administração. Definir valores, datas e periodicidade estimula a responsabilidade desde cedo. Junto com a mesada, a ideia de poupar para realizar sonhos futuros é introduzida, inicialmente com o clássico "cofrinho".
Conversas e orientações ajudam a criança a entender a importância de controlar desejos, estipular limites de gastos e priorizar sonhos futuros. À medida que crescem, conceitos econômicos mais profundos são introduzidos de maneira didática, preparando-os para administrar seus ganhos quando ingressarem na vida adulta.
Assim, quando alcançarem a idade adulta, estarão aptos a gerir seus ganhos com eficiência, com uma parte já direcionada para projetos futuros. A educação financeira descomplicada desde a infância é a chave para um futuro financeiro sólido e próspero.
Ao analisar o recente endividamento das famílias brasileiras, fica evidente a preocupante ausência de educação financeira. Do cartão de crédito descontrolado, liderando com 79,5%, às dívidas por carnês (15,5%) e financiamento de carro (9,7%), é nítido que o despreparo financeiro é um fator significativo (FERNANDES, 2019).
Essa lacuna é ainda mais acentuada pela falta de planejamento financeiro pessoal e familiar, essencial para acumular bens e valores. Essas estratégias, como destaca PICCINI (2014, p. 36), são fundamentais para a construção de projetos de vida, desde a educação dos filhos até a aposentadoria e empreendedorismo.
O alarmante nível de endividamento é impulsionado pela facilidade de acesso ao crédito, criando um ciclo de gastos compulsórios. A pressão para adquirir bens de consumo torna-se um desafio social na "sociedade do consumo". Estratégias de planejamento financeiro, alinhadas às reais necessidades familiares, são cruciais para definir objetivos de consumo e evitar escolhas influenciadas por impulsos imediatos (FERNANDES, 2019).
Na economia atual, a conexão entre economia e investimento é crucial para o desenvolvimento sustentável. A produção econômica de longo prazo está intrinsecamente ligada à quantidade de economia gerada para investir em elementos que fortalecem a eficiência e a estabilidade econômica. Essa relação destaca a importância de abordagens conscientes na gestão financeira para promover o desenvolvimento sustentável.
Abordar a Educação Financeira na sociedade é vital para ampliar a oferta de serviços e produtos financeiros aos consumidores, desempenhando um papel crucial nas atividades econômicas do mercado de capitais.
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A expansão da oferta de produtos e serviços financeiros foi acompanhada por uma falta de conhecimento dos investidores, contribuindo para a crise financeira global no século XXI, impactando principalmente os países desenvolvidos (FANTIN, 2020). Destaca-se que a falta de educação financeira foi um catalisador significativo para a crise financeira global.
No Brasil, o acesso aos produtos e serviços financeiros cresce desde o século XXI, impulsionado pelo equilíbrio econômico após o Plano Real (1994). O país apresenta um índice otimista de conexão da população adulta com o sistema bancário (BANCO CENTRAL, 2018).
Diante desse cenário, o governo brasileiro implementou medidas de educação financeira, inspiradas em programas internacionais, através da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF). O programa visa tornar os serviços financeiros acessíveis a pessoas excluídas do mercado de capitais (BANCO CENTRAL, 2014).
Como já discutido na pesquisa da @falebrenda, o acesso ao crédito tornou-se mais acessível, impulsionando o consumo e destacando a necessidade de um orçamento para gerir eficazmente as finanças. Compreender o mecanismo das finanças pessoais é essencial em todos os estágios da vida, e a introdução precoce da educação financeira pode ser crucial para o desenvolvimento social e pessoal do indivíduo.
Durante séculos, a responsabilidade da educação infantil esteve nas mãos das famílias. Como mencionado na pesquisa da @falebrenda, as crianças adquiriam habilidades e conhecimentos essenciais interagindo com adultos e outras crianças (Craidy, 2007, p. 13). Com o avanço do urbanismo, a classe burguesa no Século XIII mostrou interesse crescente na educação infantil, destacando a necessidade de uma educação que capacitasse o controle sobre a natureza (Pereira et al, 2009).
No contexto brasileiro, as creches foram as primeiras iniciativas de educação infantil, surgindo da necessidade de mães trabalhadoras encontrar cuidados para seus filhos (Craidy, 2007). Historicamente, a legislação reconheceu o direito à educação apenas em 1988, consolidando esse direito para crianças de zero a seis anos (Craidy, 2007).
A importância de educar financeiramente desde cedo é crucial. A criança deve entender o valor do dinheiro, aprender a poupar e fazer escolhas conscientes. A educação financeira nessa fase estimula um relacionamento saudável com o dinheiro, preparando para a fase adulta (DE SOUZA, 2012).
Modernell (2011) destaca a importância de ensinar às crianças o princípio de economizar para desfrutar de pequenos prazeres. A educação financeira, conforme Kassardjian (2013), pode ser incorporada por meio de atividades práticas e recursos, baseados nos "dez princípios básicos do dinheiro" (GODFREY, 2003).
É essencial inserir esses conceitos na rotina infantil, pois no futuro, entender a diferença entre necessidade e desejo, assim como o valor real do dinheiro, será crucial para um completo entendimento econômico.
Refletir sobre as finanças pessoais é essencial em todas as etapas da vida, especialmente durante a universidade, onde a transição para o mercado de trabalho começa a se desenhar.
É fundamental abordar o tema do dinheiro em casa, mesmo sendo considerado um tabu. Muitos jovens chegam à vida adulta sem conhecimentos básicos sobre gerenciamento financeiro, principalmente quando precisam estudar fora.
O período universitário traz despesas adicionais como alimentação, mensalidades e moradia, justificando a importância de oferecer educação financeira aos estudantes. Ao concluir o curso, inicia-se uma nova fase, marcada pela consideração da carreira e por investimentos que garantam estabilidade e equilíbrio, incluindo a preparação para a aposentadoria.
Nesse estágio da vida, compreender as finanças pessoais é crucial. O universitário deve analisar sua gestão financeira, considerando gastos fixos mensais e planejando para despesas eventuais, como materiais e projetos. Aproveitar oportunidades de estágio ou trabalhos durante o curso é vital para adquirir experiência na administração financeira, preparando-se para futuros desafios (SHOTS, 2022).
É imperativo que o jovem pense no futuro, mantendo um pensamento linear sobre suas finanças, o dinheiro que ganha e como utilizar isso para construir independência financeira. Focar em investimentos ao longo da vida profissional, como previdência privada, proporciona estabilidade após encerrar a carreira (SHOTS, 2022).
Muitos adultos enfrentam desafios educacionais, muitas vezes por falta de oportunidades que impedem a conclusão do ensino médio, apesar do progresso na educação de adultos. O EJA (Educação de Jovens e Adultos), uma ferramenta criada pelo Governo Federal, busca superar esses obstáculos, mas desafios persistem.
Para fortalecer a educação de jovens e adultos, é crucial incluir a Educação Financeira no currículo escolar, valorizando suas experiências pessoais e profissionais na gestão das finanças diárias (HURTADO, 2020; Ribeiro et al, 2021).
Na vida adulta, as responsabilidades financeiras aumentam, e o mercado oferece uma variedade crescente de produtos financeiros. Para aproveitar essas ofertas de maneira positiva, os adultos precisam de conhecimento financeiro apropriado. Campos Silva (2014) destaca a necessidade de constante atualização diante do desenvolvimento sem precedentes na indústria, comércio e tecnologia.
A educação financeira se torna ainda mais crucial para adultos e alunos do sistema EJA, contribuindo para novas oportunidades na sociedade. Isso promove o desenvolvimento social, capacitando-os a enfrentar os desafios financeiros típicos dessa faixa etária (Campos Silva, 2014; Ribeiro et al, 2021).
O endividamento na terceira idade atinge um nível expressivo no Brasil, com aproximadamente 27% dos idosos enfrentando inadimplência, levando muitos a retornarem ao mercado de trabalho (Pfizer, 2021).
A preparação financeira para a aposentadoria deve começar na juventude, incluindo a definição de metas a curto, médio e longo prazo, adaptadas à idade atual, à desejada para a aposentadoria e à renda almejada (DE BARROS, 2012).
Apesar da popularidade da poupança no Brasil, sua rentabilidade é relativamente baixa. Para garantir estabilidade financeira na aposentadoria, recomenda-se uma carteira de investimentos diversificada, abrangendo previdência complementar, títulos do governo, certificados de Depósito Bancário e ações (DE BARROS, 2012).
O sistema de previdência social, composto pelo regime geral, regimes próprios e previdência complementar, é uma preocupação social e governamental (MACEDO, 2017). Além da previdência pública, a privada surge como uma opção para complementar benefícios, especialmente diante da redução da capacidade de trabalho na terceira idade (DEBIASI, 2004).
A previdência privada não apenas complementa, mas pode ser a principal fonte de renda, possibilitando a aposentadoria em períodos mais curtos, contribuindo para a independência financeira e melhor qualidade de vida (SOUZA, 2019). Variáveis como aplicação, rentabilidade, taxa de administração, taxa de carregamento e imposto de renda devem ser consideradas ao escolher um plano (DEBIASI, 2004).
A Educação Financeira desempenha um papel crucial no fortalecimento do empreendedorismo, influenciando positivamente tanto os resultados pessoais quanto os empresariais. No contexto brasileiro, com 42 milhões de empreendedores entre 18 e 64 anos, a administração financeira é essencial para o sucesso de pequenos e grandes negócios (Agência Sebrae, 2023).
A falta de investimento em educação financeira resulta em indivíduos carentes de conhecimentos básicos na gestão de recursos, impactando não apenas a esfera pessoal, mas também a empresarial. Dados da pesquisa "Sobrevivência de Empresas" revelam uma taxa de mortalidade de 29%, diretamente relacionada à competência na administração e conhecimento no campo empresarial (SEBRAE, 2021).
O nível educacional dos empreendedores desempenha um papel significativo na aquisição de conhecimento, podendo resultar em maior produtividade e retorno financeiro substancial. Programas de treinamento sobre análise de mercado, desenvolvimento de produtos, práticas de administração financeira e contabilidade podem prolongar a vida útil das empresas, contribuindo para o crescimento econômico (CORCINO, 2022).
A educação financeira, conforme destacado por BoaVentura (2018), é essencial para disciplinar o uso consciente de instrumentos financeiros na vida pessoal e empresarial. Maximiza a economia, promove a poupança e minimiza riscos associados ao uso inadequado do crédito, evitando o superendividamento.
A busca por empréstimos, sem uma educação financeira adequada, pode resultar em aumento de dívidas, comprometendo a renda e afetando a gestão financeira do empreendimento. A falta de planejamento dificulta a prevenção do endividamento e a aplicação eficiente dos recursos, evidenciando a interconexão entre a educação financeira pessoal do empreendedor e o sucesso do negócio.
Ao explorar a Educação Financeira no Brasil, nota-se sua importância como aliada diante de desafios persistentes como desigualdades e endividamento. Embora subexplorada, a Educação Financeira é crucial para escolhas informadas e fortalecimento cidadão. A ausência desse conhecimento reflete-se no alarmante endividamento das famílias brasileiras.
Iniciativas como a ENEF e programas de treinamento destacam-se, promovendo a conscientização sobre a relação entre economia e investimento. Em diferentes estágios da vida, desde a infância até a terceira idade, a Educação Financeira desempenha papel vital, incentivando um relacionamento saudável com o dinheiro.
No contexto empresarial, a Educação Financeira é essencial para o sucesso de pequenos e grandes negócios. A falta de investimento nessa área contribui para taxas significativas de mortalidade empresarial. Concluindo, a Educação Financeira não só molda futuros individuais, mas também é fundamental para um país economicamente sólido e próspero.
Texto baseado na pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso “Educação Financeira no Brasil”, apresentada por Brenda Campos @falebrenda, no Curso de Ciências Econômicas do Centro Universitário de Bauru, sob a orientação do Professor Dr. Fábio José Esguícero, em 2023. Dowload disponível aqui. Siga-a no Instagram clicando no @ destacado.